sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A mídia é da burguesia

Wikileaks aponta Wiliam Waack como

informante do governo dos EUA


O repórter William Waack, da Rede Globo de Televisão, foi apontado como informante do governo americano, segundo post do blog Brasil que Vai - citando documentos sigilosos trazidos a público pelo site Wikileaks há pouco menos de dois meses.
De acordo com o texto, Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”.
- Por essa razão é que se sentiu à vontade de protagonizar insólitos episódios na programação que conduz, nos quais não faltaram sequer palavrões dirigidos a autoridades do governo brasileiro.
O post informa que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses americanos, que se preocupam com o cosmopolitismo nacional, nem com os do Estado de Israel, influente no ‘stablishment’ norte- americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” - no que seria um caso de “infiltração da CIA [a agência norte-americana de inteligência] nas instituições do país”.
O post do blog afirma ainda que os documentos divulgados pelo Wikileaks de encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel “mostram que sua atuação atende a outro comando que não aquele instalado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”.
Wikileaks suspende operações
O site WikiLeaks anunciou nesta segunda-feira (24) a suspensão temporária da difusão de documentos confidenciais e sigilosos para concentrar-se na arrecadação de fundos que permitam garantir a futura sobrevivência.
A página criada por Julian Assange afirma em um comunicado que se vê forçada a “suspender temporariamente as operações de publicação e a arrecadar fundos agressivamente para contra-atacar”, após o bloqueio de seus recursos pelas operadoras de cartões de crédito e outras empresas.
Companhias americanas suspenderam transações com o site após a publicação de 250 mil documentos do Departamento de Estado americano, o que causaria restrições a essas empresas.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O que deve ser um jovem comunista

Che Guevara



Conferência pronunciada na União de Jovens Comunistas em 20 de Outubro de 1962 e publicado em Verde Olivo, ano 3, nº 43, 28 de Outubro de 1962
Quero formular agora, companheiros, qual é a minha opinião, a visão de um dirigente nacional das ORI, do que é que deve ser um jovem comunista, a ver se estivermos de acordo todos.
Eu acho que o primeiro que deve caracterizar um jovem comunista é a honra que sente por ser um jovem comunista. Essa honra que o leva a mostrar perante todo o mundo a sua condição de jovem comunista, que nom o vira para a clandestinidade, que nom o reduz a fórmulas, mas que o exprime a cada momento, que lhe sai do espírito, que tem interesse em demonstrá-lo porque é o seu símbolo de orgulho.
Junto disso, um grande sentido do dever para a sociedade que estamos a construir, com os nossos semelhantes como seres humanos e com todos os homens do mundo. Isso é algo que deve caracterizar o jovem comunista. Ao pé disso, uma grande sensibilidade ante todos os problemas, grande sensibilidade face à injustiça. Espírito inconformado cada vez que surge algo que está mal, tenha-o dito quem o disser. Pôr em questão todo o que nom se perceber. Discutir e pedir esclarecimentos do que não estiver claro. Declarar a guerra ao formalismo, a todos os tipos de formalismo. Estar sempre aberto para receber as novas experiências, para conformar a grande experiência da humanidade, que leva muitos anos a avançar pela senda do socialismo, às condições concretas do nosso país, às realidades que existem em Cuba. E pensar -todos e cada um- como irmos mudando a realidade, como irmos melhorando-a.
O jovem comunista deve tentar ser sempre o primeiro em tudo, lutar por ser o primeiro, e sentir-se incomodado quando em algo ocupa outro lugar. Lutar sempre por melhorar, por ser o primeiro. Claro que não todos podem ser o primeiro, mas sim estar entre os primeiros, no grupo de vanguarda. Ser um exemplo vivo, ser o espelho onde possam olhar-se os homens e mulheres de idade mais avançada que perderam certo entusiasmo juvenil, que perderam a fé na vida e que ante o estímulo do exemplo reagem sempre bem. Eis outra tarefa dos jovens comunistas.
Junto disso, um grande espírito de sacrifício, um espírito de sacrifício não apenas para as jornadas heróicas, mas para todo o momento. Sacrificar-se para ajudar o companheiro nas pequenas tarefas e que poda cumprir o seu trabalho, para que possa cumprir com o seu dever no colégio, no estudo, para que possa melhorar de qualquer maneira. Estar sempre atento a toda a massa humana que o rodeia.
Quer dizer: apresenta-se a todo jovem comunista a tarefa de ser essencialmente humano, ser tão humano que se aproxime ao melhor do humano, purificar o melhor do homem por meio do trabalho, do estudo, do exercício de solidariedade continuada com o povo e com todos os povos do mundo, desenvolver ao máximo a sensibilidade até se sentir angustiado quando um homem é assassinado em qualquer canto do mundo e para se sentir entusiasmado quando em algum canto do mundo se alça uma nova bandeira de liberdade.
O jovem comunista não pode estar limitado pelas fronteiras de um território, o jovem comunista deve praticar o internacionalismo proletário e senti-lo como coisa de seu. Lembrar-se, como devemos lembrar-nos nós, aspirantes a comunistas cá em Cuba, que somos um exemplo real e palpável para toda a nossa América, para outros países do mundo que lutam também noutros continentes pela sua liberdade, contra o colonialismo, contra o neocolonialismo, contra o imperialismo, contra todas as formas de opressão dos sistemas injustos. Lembrar sempre que somos um facho acesso, que somos o mesmo espelho que cada um de nós individualmente é para o povo de Cuba, e somos esse espelho para que se olhem nele os povos da América, os povos do mundo oprimido -que lutam pela sua liberdade. E devemos ser dignos desse exemplo. Em todo o momento e a toda a hora ser dignos desses exemplos.
Isso é o que nós julgamos que deve ser um jovem comunista. E se se nos dissessem que somos quase uns românticos, que somos uns idealistas inveterados, que estamos a pensar em cousas impossíveis, e que nom se pode atingir da massa de um povo que seja quase um arquétipo humano, nós temos de contestar, uma e mil vezes, que sim, que sim se pode, que estamos no certo, que todo o povo pode ir avançando, ir liquidando intransigentemente todos aqueles que ficarem atrás, que nom forem capazes de marcharem ao ritmo a que marcha a revolução cubana. Tem de ser assim, deve ser assim, e assim é que será, companheiros, será assim, porque vocês som jovens comunistas, criadores da sociedade perfeita, seres humanos destinados a viver num mundo novo de onde terá desaparecido de vez todo o caduco, todo o velho, todo o que representar a sociedade cujas bases acabam de ser destruídas.
Para atingirmos isso cumpre trabalhar todos os dias. Trabalhar no senso interno de aperfeiçoamento, de aumento dos conhecimentos de aumento da compreensão do mundo que nos rodeia. Inquirir e pesquisar e conhecer bem o porquê das coisas e colocar sempre os grandes problemas da Humanidade como problemas próprios.
Nm momento dado, num dia qualquer dos anos que venham após passarmos muitos sacrifícios, sim, depois de termo-nos porventura visto muitas vezes à beira da destruição- após termos porventura visto como as nossas fábricas som destruídas e de tê-las reconstruído de novo, depois de assistirmos ao assassinato, à matança de muitos de nós e de reconstruirmos o que for destruído, ao fim de isso tudo, um dia qualquer, quase sem repararmos, teremos criado, junto dos outros povos do mundo, a sociedade comunista, o nosso ideal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Documento revela 'arapongagem' na USP

 Monitoramento foi um dos assuntos debatidos na audiência pública na AL

Fonte: Caros Amigos

Documento que chegou às mãos do deputado estadual Carlos Gianazzi (PSOL-SP) durante a audiência pública que aconteceu nesta segunda-feira, 28, na Assembleia Legislativa, sobre a presença da PM no campus da USP, aponta que reuniões do Sindicato dos Trabalhadores da USP, o Sintusp, e da Associação dos Docentes da USP, a Adusp, teriam sido monitoradas. Não foi revelado quem estaria no comando desse monitoramento.

Para o diretor do Sintusp, Magno de Carvalho, que representou os trabalhadores da USP na audiência, o monitoramento das atividades sindicais é um fato gravíssimo. Ele acredita que há a possibilidades de que escutas tenham sido instaladas nas sedes das entidades. “Vamos ter de começar a fazer nossas reuniões fora do Sindicato”, desabafa.

Transcrições

O documento não foi apresentado à imprensa, o deputado Gianazzi afirmou que pretende verificar a veracidade das informações. Há, segundo a denúncia, transcrições das falas de dirigentes do Sintusp e da Adusp e representantes do Fórum das Seis, entidade que reúne os sindicatos e as associações de docentes das três universidades públicas paulistas, Unicamp, Unesp e USP.
Para o vice-presidente da Adusp, César Minto, é preciso analisar a denúncia. “Precisamos saber de onde partiu e o que isso significa.” Ele informa que vai remeter o caso ao departamento jurídico da entidade. De acordo com dirigente, o nível de autoritarismo presenciado na USP é preocupante. “Não há diálogo. A reitoria não responde nem mesmo aos ofícios que são encaminhados”, critica o docente, que também leciona na Faculdade de Educação.

Sem moral

“É um desprezo repetido e reiterado”, alfineta o diretor do Diretório Central dos Estudante, Tiago Aguiar, ao se referi à postura de Rodas. A entidade defende a saída do reitor do cargo. “Ele não tem autoridade moral para dirigir a USP”, afirma o estudante ao comentar o fato de a PM ter sido chamada por Rodas para reprimir os estudantes que ocupavam a reitoria da universidade.

Rafael Alves, um dos 73 alunos presos durante a invasão da PM à reitoria, também defende a saída do reitor. Ele destacou a forma repressiva como a reitoria da USP tem se comportado em relação aos ativistas que atuam na universidade. “São mais de 50 processos contra estudantes e funcionários. E provavelmente os 73 (detidos) também serão processados.”

Policial

Uma dirigente do Sintusp também denunciou que o chefe da Guarda Universitária, o investigador de polícia Ronaldo Penna, seria um dos donos de uma das empresas terceirizadas que presta serviços à Universidade.

O reitor João Grandino Rodas não compareceu à audiência. A assessoria da USP alegou incompatibilidade de agenda. Gianazzi pretende aprovar a convocação do reitor da USP para prestar esclarecimentos nas comissões de Direitos Humanos, Educação e Meio Ambiente. Para isso, precisará convencer os deputados da base governista a dar o aval para a convocação.

Se as convocações forem aprovadas, Rodas será obrigado a comparecer à Assembleia Legislativa para prestar esclarecimentos sobre acusações, por exemplo, de improbidade administrativa. João Grandino Rodas foi indicado pelo então governador de São Paulo, José Serra. Ele foi o segundo colocado de uma lista tríplice contrariando o que é de praxe - que o primeiro colocado da lista encaminhada ao governador seja o nome chancelado.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A USP É NOSSA - O Humor discutindo muito bem a repressão na USP


Rola muita confusão quando o Reitor, o Universitário e a Mídia se encontram no banco da praça.

Atores: Bruno Lottelli, Matheus Rufino e Murilo Alvesso
Câmera: João Pedone

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A patafísica e o uso da força da PM

Em:  http://xicosa.folha.blog.uol.com.br/

Sempre reparo no exagero e no desperdício de forças quando a Polícia Militar usa duas, três viaturas para acabar, por exemplo, com uma festinha caseira em SP.
Poderia ser melhor distribuído esse aparato, afinal de contas a festa, mesmo quando de arromba, não deixará mortos e feridos.
Até os românticos sabiás da madruga de SP sabem que a simples ronda de uma viatura previne contra muita bagaceira criminal por ai. Manda uma viatura para a festinha, se é que é o caso, e libera as outras para o resto da cidade.
Nunca entendi mesmo a tabuada que a Secretaria de Segurança Pública de SP utiliza para os seus cálculos.
Um atento leitor deste blog me chama a atenção agora para um destas contas da calculadora patafísica.
Na super, mega, ultra operação de retirada dos estudantes da reitoria da USP, a PM pôs uma volante com 400 homens da sua tropa de choque. Não contemos os cães, estes não pensam, apenas obedecem às sinetas de Pavlov. Do outro lado: 70 alunos.
Mais de cinco para cada “elemento invasor”. Quando a ocupação é de sem-teto, por exemplo, a proporção se repete ou supera.
O clássico do próximo domingo no Pacaembu, Corinthians x Palmeiras, tem estimativa de público de 37,8 mil pessoas.
Continuemos aplicando, por favor, os métodos da ciência patafísica nas nossas contas.
Pois saiba que o plano da PM para o jogão superlativo do Brasileirão é de reforçar o policiamento. A promessa é de escalar entre 200 e 300 homens. O normal é o uso de 100.
Repare no que disse o coronel Walmir Martini, um dos responsáveis pela segurança do clássico, nesta Folha.com.:
“Este é o jogo de maior perigo no ano e o que nos demanda a maior atenção". "Nossa preocupação é o Palmeiras evitar o título do Corinthians. Teremos um barril de pólvora ali."
Paz aos homens de boa vontade. Dentro e fora de campo. Só queria entender essa tabuada militar.
Algum fã aí da sabedoria patafísica, corrente à qual sou filiado desde o berço, me explica?
Em troca, esse generoso blog diz, para quem ainda não sabe, que a patafísica vem a ser a ciência das soluções imaginárias e das leis que regulam as exceções. Foi criada pelo dramaturgo francês Alfred Jarry (na ilustração acima), em 1907.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

RESENHA DO LIVRO "O COMBATE SEXUAL DA JUVENTUDE" DE WILHELM REICH


Para além da miséria sexual
 
Por Diana Assunção
Diretora do Sintusp e dirigente da LER-QI
Resenha publicada na Revista Contra a Corrente [Ano 3, nº 6 - 2011] das Edições Centelha Cultural. 

Neste último mês veio a público “O combate sexual da juventude”, de Wilhelm Reich, comentado por Gilson Dantas, médico, militante setentista, editado pela Centelha Cultural. O livro lança luz sobre uma série de questões, e a primeira que aponto é: qual o espaço do debate da sexualidade entre a própria esquerda? Já é de praxe que entre os setores da esquerda, da centro-esquerda e progressistas o debate da opressão seja um tema teoricamente importante. O teoricamente se dá pelo fato de que, na prática, o lugar relegado às opressões não expressa sua importância, pois na maioria das vezes encontra-se à margem da política. Além disso, a luta contra a opressão é quase sempre encarada desde um ponto de vista “reivindicativo”, no que diz respeito às demandas democráticas – em sua maioria mínimas, elementares – ou diretamente à idéia “maximalista”, ainda que correta, de que “só com a revolução socialista se acabará com a opressão”.

Há muito que os marxistas e revolucionários não colocam como parte do combate à opressão, um combate pelo direito à livre sexualidade. É de notar-se, inclusive, que mesmo nos espaços da esquerda o sexo passa a ser um “tabu”, como muitas vezes o é, ainda que “do avesso”, entre a burguesia. Qual foi a última manifestação em que vimos uma bandeira ou uma música que pedia o “direito ao prazer sexual”? Qual foi o último encontro, da juventude, em que discutiu-se sexo e amor? Pelo menos em nosso país não é fácil recordar-se. Daí que chegamos numa triste constatação de que a luta contra a opressão muitas vezes se perde no “reivindicativo” impossibilitando-se de ir até o mais profundo do que significa o controle sexual na sociedade capitalista, que transcende inclusive o tema da opressão em si.

Então para questionar – no mínimo – o fato de que as discussões de sexualidade são adendos nos programas da esquerda, dos sindicatos e de movimentos sociais, e na maioria das vezes estão relegados a espaços “próprios”, onde o oprimido se encontra com outros oprimidos para debater – este processo na maioria das vezes leva ao inverso do que se busca, ao contrário do espaço mais “livre”, que certamente é necessário, leva-se a uma lógica vitimizada do oprimido, mesmo daquele que já deu um passo adiante em sua consciência de classe e compreende que o capitalismo é miserável, principalmente para as mulheres, negros e homossexuais. É para questionar esta idéia que venho saudar a iniciativa da publicação do livro de Wilhelm Reich, onde Gilson Dantas se coloca a tarefa de, desde uma perspectiva marxista revolucionária, “beber da fonte” de Reich e suas idéias, bastante controversas para a época, sobre a sexualidade.

Apesar de ter uma série de publicações mais conhecidas, como “A função social do orgasmo” e “A revolução sexual”, é neste pequeno livro “O combate sexual da juventude” que Reich irá problematizar a questão da sexualidade entre os jovens, desde as questões mais elementares como prevenção e direito ao aborto, até o questionamento da idéia de sexo enquanto reprodução, contrapondo-o à idéia de sexo enquanto fonte de prazer. A isso, Reich pergunta “Mas podemos nós, atualmente, nas condições atuais do capitalismo , dizer à juventude de uma maneira geral: ‘Podeis ter tranquilamente relações sexuais’? Não, não podemos, porque lhe falta todas as condições”.

Reich, que era um militante do Partido Comunista Alemão, defende a tese de que a sexualidade somente será totalmente livre com a Revolução Socialista – ainda que, ao não compreender a situação de degeneração que passavam os PC´s pós-URSS acabava tornando abstrata esta idéia. Daí a importância de uma leitura marxista revolucionária, como apresenta Gilson Dantas nesta publicação, alertando ao leitor tanto sobre questões que já foram superadas como também por aspectos da teoria de Wilhelm Reich que não condizem com o marxismo, negando a dialética. É este o caso, por exemplo, como insiste Dantas, da unilateralização sobre a libertação sexual e a decadência da burguesia.

Mas ao mesmo tempo, Reich demonstra, ao longo do livro, como a sexualidade é parte intrínseca da dominação capitalista, da alienação. “Seria um grande erro acreditar que são assuntos privados sem interesse, porque eles se enraízam na nossa ordem sexual, e na nossa educação capitalista; corrompem a nossa juventude tornando-a além disso muito frequentemente incapaz de lutar”. Aqui podemos recorrer à Gramsci, em “Americanismo e fordismo”, quando também demonstra que, para além da dupla jornada, já conhecidamente um mecanismo que combina opressão e exploração, o controle sobre o tempo livre dos operários e operárias, assim como sobre seu corpo e sexualidade, passam a ser parte da exploração. Gramsci apontava que o industrialismo fordista organizava uma série de campanhas no interior das fábricas, combatendo o alcoolismo e sugerindo a “vida em família”, como forma de manter melhores condições de trabalho.

No “Combate...”, Reich chega a desenvolver aspectos terminados de programa como a distribuição gratuita e generalização da informação sobre métodos contraceptivos, o direito ao aborto, alojamentos para que os jovens possam se independizar de suas família e terem espaço também maior de liberdade sexual, mas vê como essencial para uma juventude revolucionária alimentar-se do mais feroz combate por sua sexualidade, questionando não somente os ditames da ideologia burguesa (sexo como reprodução, hipocrisia nas relações, etc) e suas instituições (família burguesa, casamento, Igreja) como buscando uma nova ideologia, ligada à idéia da Revolução Socialista. Assim Reich coloca o combate sexual da juventude no marco da luta anticapitalista: “Antes da revolução não podemos ajudar muito a massa dos jovens de um ponto de vista sexual, mas é preciso politizar a questão, é preciso transformar a rebelião sexual da juventude, secreta ou aberta, numa luta revolucionária contra a ordem social”. Recentemente o Centro de Estudos Leon Trotsky, da Argentina, publicou o livro “O estado, a mulher e a revolução” da norte-americana Wendy Goldman, que lançou luz sobre estas idéias.

Afinal, é possível ser revolucionário nas relações pessoais, no amor e no sexo, vivendo numa sociedade capitalista? Para isso, Goldman buscou estudar o pós-tomada do poder na Rússia revolucionária e como os bolcheviques encaravam o problema das relações pessoais, do modo de vida, que Trotsky em sua “Teoria da Revolução Permanente”, terminada em 1928, irá caracterizar como parte da lei geral da revolução, quando esta vive sua “metamorfose” interna, contra todos os preconceitos capitalistas que, materialmente destruídos, ainda vivem nos corações e mentes da população.

Mas se hoje não existem as bases econômicas para se realizar o amor livre – e entende-se por amor livre justamente o exercício de um sentimento, não de forma individualista, mas de forma social, livre de todas as relações capitalistas e econômicas que o aprisionam – buscar desconstruir toda a ideologia burguesa em torno do amor, em torno da sexualidade e das relações é um exercício necessário aos revolucionários para, como parte da estratégia decidida pela insurreição proletária, questionarem-se mais profundamente – já que são parte da construção de um mundo novo.

Então, voltar “à Reich” com o olhar marxista, deve ser encarado como parte deste exercício, de recolocar o tema da sexualidade como um aspecto das transformações humanas que almejamos. A burguesia, dizia Reich, não é capaz de encabeçar esta transformação, já que a sociedade capitalista se delicia sobre a opressão do corpo, da sexualidade, a castração da juventude, o medo diante do prazer, a vergonha, o ciúmes, e todos os sentimentos que, em última instância, fazem parte da manutenção de um status quo da família, do estado e sua propriedade privada. Aqui vale ressaltar que Reich, apesar de não condenar ou perseguir a homossexualidade, apresentava posição equivocada, preso à heteronormatividade, caracterizando-a como uma doença. Mesmo com esse equívoco determina que nenhum homossexual pode ser "forçado" a qualquer tratamento (psicanálise) e ninguém pode ameaçar, denunciar ou extorquir os homossexuais. Nesta passagem é fundamental, no livro, levar em conta os comentários de Gilson Dantas.

Por tudo isso, a leitura de “O combate sexual da juventude” é necessária, e devemos buscar inaugurar na esquerda o estudo sobre estes temas que, no profundo da individualidade de cada um, sejam trabalhadores ou trabalhadoras, jovens, estudantes, ocupam grande parte de seus pensamentos já que esta sociedade nos relega enorme miséria nos campos da sexualidade, do amor, das relações pessoais. Como disse Lenin à revolucionária alemã Clara Zetkin “O comunismo não deve trazer o ascetismo, mas a alegria de viver, o vigor, e isso tem a ver com uma vida amorosa plena”. A juventude, em especial, deve se lançar, correndo o risco de errar, sobre estes problemas da vida. Certamente estará mais preparada para revolucionar o mundo, para arrancar o seu futuro, para tomar o céu de assalto com a classe trabalhadora.